Lúcio Lagarto

4 de mai. de 2011



A categoria dos mais pesados, acima de 92kg, tem um novo comandante. Trata-se de Lúcio Lagarto, que enfrentou o jovem Marcus Buchecha na final deste sábado e venceu por 5x0. O campeão do Mundial Profissional de Abu Dhabi passou por nomes expressivos como Xande Ribeiro e José Junior para chegar ao topo. Depois de ter o visto de entrada nos Estados Unidos negado quatro vezes, Lagarto espera que este ano consiga disputar o Mundial, principal objetivo de sua carreira. “Eu via a galera lá (nos EUA) e me via como o excluído da festa. Mas hoje, com esse campeonato em Abu Dhabi, eu consegui provar para mim mesmo que estou no nível”, disse. Em entrevista à TATAME, Lagarto fala ainda sobre sua vida na Inglaterra, superação, treinos com Roger Gracie e planos para o futuro.

Campeão europeu, ganhou a seletiva e derrotou o jovem Marcus Buchecha. Isso mostra que os veteranos ainda mandam?

Fico amarradão de chegar aqui. Lutei a seletiva de Portugal, ganhei a seletiva da Inglaterra, lutei o Europeu, e o meu dia a dia é pesado para caramba. Eu dou aula o dia inteiro e ainda tenho que achar um tempinho para treinar, chegar aqui e lutar com esse bando de leão... É puxado. Fiquei amarradão de ganhar porque o Buchecha é um moleque que é apontado, por vocês mesmos da imprensa como um talento nato, e eu fico honrado de ter lutado com ele, mas também com o Xande (Ribeiro) e essa galera toda. Eu venho nessa batalha há um tempo para chegar à vitória.

Como você avalia o seu campeonato?


É engraçado porque aqui parece que você está em um tapete mágico. Tudo acontece em proporções gigantescas. Quando você vê, já está acontecendo. Como por exemplo, agora: o Sheik de Abu Dhabi está entrando aqui pela porta (risos). Eu me dediquei muito para esse campeonato. É sinistro chegar e ter a primeira luta contra o segundo melhor nome da história do Jiu-Jitsu. O Xande já bateu de frente com o Roger (Gracie) há um tempão, mas graças a Deus eu consegui vencê-lo. Ele até machucou a costela na hora que eu cheguei para o lado. Depois lutei com o (José) Junior, um moleque duríssimo também, que não para de se mexer. Cheguei à final com o Buchecha, então para mim foi uma vitória incrível esse campeonato.

Mais uma vez, uma batalha pessoal. Para mim, foi bom pela minha cabeça pelo seguinte: tudo que eu faço na minha vida é por mim, por satisfação pessoal mesmo, não tenho nada a provar para ninguém, mas isso foi bom para eu ver que eu não estou tão longe do nível. Desde que o Mundial foi para os Estados Unidos, eu costumo brincar dizendo, mas é verdade. Quando a Gracie Barra mudou para os Estados Unidos, eu perdi várias coisas: perdi a Gracie Barra, perdi a minha referência de mestre, que foi o Carlinhos, não tenho mais contato com ele, perdi os meus amigos e perdi o Mundial.

Minha vida toda era lutar visando o Mundial. De repente levam a competição para os Estados Unidos e eu nunca mais tive a chance. Eu via a galera lá e eu me via como o excluído da festa. Mas hoje, com esse campeonato aqui, eu consegui provar para mim mesmo que estou no nível. O Buchecha é apontado como o melhor, ganhou do Braga Neto, que é sinistro, apontado pelas revistas como um fenômeno. Ganhei do Xande, ganhei de uma galera e fui abençoado. E agora eu acho que tenho o nível para chegar e ser campeão do Mundial da CBJJ.

Esse ano você vai?

Se Deus quiser. Vou tentar o meu visto de novo, porque eu já tenho quatro vistos negados. Vou continuar tentando. Esse é o meu dilema. Eu tento, tento, tento... Mas um dia o sol tem que brilhar para mim.

E a vida na Inglaterra, como vai? Você treina direto com o Roger Gracie?


Sim. O Roger, vou te dizer, até me desestimula porque tudo que eu faço com o cara dá errado (risos). Já o Bráulio (Estima) e eu somos uma realidade mais próxima porque o Braúlio, além de ser sinistro, a gente consegue trocar umas posições um com o outro. Agora, com o Roger, é tudo muito surreal. É guerra o tempo todo, é amasso. Eu estou aprendendo muito com ele, a gente ajuda muito um ao outro, eu o ajudo lá na academia dele. Eu larguei a minha academia no norte da Inglaterra, deixei na mão de aluno, para dedicar a minha vida ao Jiu-Jitsu. As pessoas no Brasil, às vezes acham que a vida é moleza no lado de fora, mas é muita dedicação. Todos os dias eu acordo pensando o que eu estou fazendo na Inglaterra, com o tempo cinza, triste, mas eu acho que é por aí: tudo tem um pouco de sacrifício.

Tudo na sua vida teve sacrifício, você é tipo o Lance Armstrong do Jiu-Jitsu...

É, eu sou o Lance Armstrong do Jiu-Jitsu (risos). Quem, na história do Jiu-Jitsu, passou pelo que eu passei e chega aqui e é campeão mundial? Você conhece? Eu não conheço. Estou muito feliz, foi muito maneiro. Cada ano é uma superação. Acredito que, na nossa vida, tudo acontece por algum sentido. De repente, isso que aconteceu comigo, alguém vai ver essa entrevista, vai escutar o que eu estou falando, e isso vai tocar no coração dele e ele vai ver que, se eu consegui, se eu passei por isso tudo, ele também vai passar. É só uma questão de determinação.

Você acredita que essa é a chave para vencer?

Eu acho que o Jiu-Jitsu tem um grande peso. Eu sempre falo isso, mas as pessoas sempre costumam cortar das minhas entrevistas: eu sempre falo o nome de Deus. Acho que o ser humano sem a fé, ele não chega a lugar nenhum. Eu sempre levava o Jiu-Jitsu como a minha base, mas o meu pilar central foi a minha fé em Jesus Cristo, em Deus. Imagina: passar pelo que eu passei... É lógico que no final do tratamento eu estava treinando Jiu-Jitsu, buscando me aperfeiçoar, treinando com a mão dentro da faixa, treinando com o Georges St. Pierre, um wrestler, sem mão, então eu estava lá me esforçando. Mas, cara, isso tudo não seria possível sem a fé.

Fonte:Tatame.com

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